domingo, 16 de maio de 2021

A concepção medieval da arte,
o símbolo e as "Bíblias dos pobres"

Luis Dufaur
Escritor, jornalista,
conferencista de
política internacional,
sócio do IPCO,
webmaster de
diversos blogs






A Idade Média concebeu a arte como um ensinamento.

Tudo o que era necessário ao homem conhecer — a História do mundo desde a Criação, os dogmas da Religião, os exemplos dos santos, a hierarquia das virtudes, a variedade das ciências, das artes e das profissões — lhe estava ensinado pelos vitrais da igreja ou pelas estátuas dos pórticos.

A catedral mereceu ser conhecida por este nome tocante: “A Bíblia dos pobres”.

Os simples, os ignorantes, todos aqueles que constituíam “o povo santo de Deus”, aprendiam pelos olhos quase tudo que sabiam de sua Fé.
Aquelas grandes imagens, tão religiosas, pareciam testemunhar a verdade daquilo que a Igreja ensinava.

As inumeráveis estátuas, dispostas segundo um plano sapiencial, eram uma imagem da ordem maravilhosa que São Tomás fez reinar no mundo das ideias.

Graças à arte, as mais altas concepções da teologia e da ciência chegavam difusamente até às inteligências mais humildes.

Mas o senso dessas obras profundas se obscureceu.

As novas gerações, que trazem consigo uma outra filosofia do mundo, não as compreendem mais.

Depois do século XVI, a arte da Idade Média tornou-se um enigma.

O simbolismo, que foi a alma de nossa arte religiosa, está a ponto de morrer.

Estudar a arte da Idade Média como se faz algumas vezes, sem se reportar ao espírito e preocupando-se unicamente com o progresso da técnica, é equivocar-se, é confundir as épocas.

Nossos antigos escultores não tinham da arte a mesma idéia que um Benvenuto Cellini. Não pensavam que a escolha de um tema fosse indiferente.

Não imaginavam uma estátua como um agradável arabesco, destinado a dar aos olhos um momento de volúpia.

Na Idade Média, toda forma era a vestimenta de um pensamento.

Dir-se-ia que o pensamento entrava dentro da matéria e a configurava.

A forma não se podia separar da ideia que a criou e que a animava.

Uma obra do século XIII, mesmo quando sua execução é insuficiente, nos interessa: nós ali sentimos alguma coisa que se assemelha a uma alma.



(Autor: Emile Mâle, “L’Art Religieux du XIII Siècle en France” - Armand Colin, 1958, p. 11)



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